Década de 1960
“É Criada a Universidade de Santa Catarina, com sede em Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina, e integrada no Ministério da Educação e Cultura…” O artigo 2º da Lei nº 3.849, de 18 de dezembro de 1960, formaliza a constituição da Universidade de Santa Catarina (só em 1965, o Federal seria incorporado ao nome). A instituição nasce da união de sete faculdades de Florianópolis (Direito, Medicina, Farmácia, Odontologia, Filosofia, Ciências Econômicas e Serviço Social) e da criação da Escola de Engenharia Industrial e hoje tem campi em outras quatro cidades: Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville.
Confira alguns dos principais fatos da década:
Início da UFSC: Como pano de fundo da formação da UFSC, estavam as discussões sobre a necessidade de federalização da instituição e sua localização. Inicialmente, Henrique da Silva Fontes idealizou a universidade como estadual, mas como ficaria inviável para o governo catarinense suprir todos os gastos, optou-se pela federalização defendida por João David Ferreira Lima, que viria a se tornar o primeiro reitor da UFSC.
A concepção do campus no então subdistrito da Trindade, afastado do Centro de Florianópolis, onde estavam as outras faculdades, era uma ideia de Henrique Fontes. O local era a fazenda Assis Brasil, que pertencia ao governo do Estado. Além da extensa área de terra, algumas construções foram incorporadas à Universidade ao longo do tempo, como a Igrejinha da UFSC e o Grupo Escolar Olívio Amorim (onde hoje é a Secretaria de Segurança Institucional, na entrada da Rua Lauro Linhares).
As possibilidades de expansão do campus e da urbanização da região venceram a alternativa inicial – prédios espalhados pelo Centro, com a reitoria e novas instalações na Rua Bocaiúva, terreno que chegou a ser comprado pela UFSC em 1962 e foi utilizado como sede até 1972.
A Cidade Universitária imaginada por Henrique Fontes saiu do papel com a construção do primeiro edifício, o prédio da Faculdade de Filosofia – conhecido, depois, como Básico e atualmente como Bloco A do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Financiada pelo governo estadual, a estrutura teve sua pedra fundamental lançada em 5 de julho de 1959 e foi inaugurada em 30 de janeiro de 1961 – a obra seria ampliada na mesma década. O sistema viário da Cidade Universitária, composto pelas ruas que cruzam o campus, é ainda mais antigo, de 1957.
Ferreira Lima foi nomeado reitor em 16 de setembro de 1961 e ficou no cargo até 24 de outubro de 1972 – ele teve dois vice-reitores: Luiz Osvaldo D’Acâmpora e Roberto Mündel de Lacerda, que foi seu sucessor. O primeiro reitor da UFSC presidiu a sessão inaugural da Universidade, em 12 de março de 1962, ocorrida no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), no Centro de Florianópolis. Quando a questão da localização chegou ao Conselho Universitário, no fim da década de 1960, Ferreira Lima, mesmo sendo contra, desempatou a votação em favor do campus Trindade, que hoje leva seu nome.
O primeiro reitor da UFSC esteve presente em quase todos os momentos importantes da instituição – da sua instalação, às discussões sobre localização, e até na nomeação dos primeiros servidores com o presidente Juscelino Kubitschek. Ele também era um apoiador do Golpe Militar de 1964: elogiou publicamente o regime em diversas oportunidades e trocava ofícios confidenciais com Serviço Nacional de Informações (SNI) nominando lideranças do “movimento subversivo”.
Integração: Em 1965, a UFSC já estava integrada ao universo estudantil brasileiro. A primeira aula magna da instituição foi proferida no Teatro Álvaro de Carvalho, pelo então reitor da Universidade do Ceará, José Martins Filho, em 10 de março de 1965.
Esse também foi o ano da primeira formatura da Faculdade de Medicina da UFSC, que, autorizada em 1959, teve sua 100ª turma formada on-line em 2020. As 99 turmas anteriores graduaram 4.873 médicos. Entre os 27 médicos formados pela UFSC em 1965, estão os concluintes do Internato em Ginecologia e Obstetrícia. Na foto tirada na entrada da Maternidade Carmela Dutra estão, da esquerda para a direita na fila de trás, Sólon Back, Waldemar Barbosa, Saulo Linhares, Milton Wahys, Maurílio Lopes da Silva, Léa Schmidt da Nova, Artur Melo Fernandes, Alberto Martins, Savas Apóstolo Pítsica e Décio Andrade Pacheco. Na fila da frente, estão os professores, da esquerda para a direita: Nazareno Amin, Huri Mendonça, Walmor Zomer Garcia, Zulmar Lins Neves, Renato Costa, José de Patta, Hamilton Sanford de Vasconcellos e Hélio Freitas.
Luta estudantil: As lutas estudantis nos anos 60 tinham diversas pautas, e uma das mais significativas era o combate contra o regime militar. Entre as reivindicações locais, estava a rescisão de um contrato que o reitor Ferreira Lima assinou para o aluguel de diversas casas, moradia de 256 estudantes, com valor 40% superior ao preço médio da Florianópolis de então, que motivou o protesto de 10 de maio de 1968 e uma greve geral.
Foi nesse clima que o Instituto de Antropologia da UFSC inaugurou sua sede própria. Antes funcionando junto ao curso de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o instituto passou a ocupar uma edificação que integrava a Fazenda Assis Brasil. Adaptada, a estrutura de 480 m² passou a abrigar laboratórios, biblioteca, sala de exposições para o acervo arqueológico, indígena e de cultura popular. Na década de 1970, o instituto virou museu e, em 1993, ganhou o nome de seu idealizador, fundador e primeiro diretor, Oswaldo Rodrigues Cabral.
No dia da abertura do espaço, 29 de maio de 1968, os estudantes que concentravam os protestos no Centro de Florianópolis, lotaram ônibus para vir ao campus da Trindade. Participaram o governador de Santa Catarina e o presidente do Tribunal de Contas, entre outras autoridades civis e militares, recebidos sob vaias dos estudantes. Em junho, a pressão deu certo: o resultado foi o cancelamento do contrato, a compra de dois prédios e a criação de bolsas-moradia.
Restaurante Universitário: Até setembro de 1965, a Cantina Universitária era administrado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e funcionava na rua Álvaro de Carvalho, no Centro. Em 17 de setembro, a UFSC assumiu o serviço e o implementou nas instalações da então Escola Técnica Federal de Santa Catarina (hoje, Instituto Federal de Santa Catarina), situada na Avenida Mauro Ramos.
Em 1969, com a concentração cada vez maior de estudantes no campus da Trindade, a UFSC iniciou a construção do Restaurante Universitário no local. A primeira etapa do projeto, que seria ampliado posteriormente, possibilitava o atendimento de 1.250 pessoas por refeição, além das dependências necessárias para o serviço, totalizando 2.100 m².
Digitalização: A UFSC adquiriu seu primeiro computador em 1969: era um IBM 1130, máquina de terceira geração, com 32 k de memória principal e que foi instalado em fevereiro de 1970. O sistema era formado por uma unidade de disco de 512 k, de 16 bits, uma impressora de 120 linhas por minuto e uma leitora de cartões com velocidade de 600 cartões por minuto.
O computador foi o segundo a ser instalado em Santa Catarina, com o objetivo de assistir as necessidades dos programas de pós-graduação dos cursos de Engenharia, Economia, Administração e Contabilidade. Em 1970, com a criação do Departamento de Ciências da Computação, o computador foi vinculado a esse órgão.